sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Vamos falar de "dieta"


  

   Hoje em dia utiliza-se muito o termo dieta para se referir a regimes de emagrecimento e a mudanças que se vão realizar na alimentação, num curto período de tempo, para se conseguir perder os tais “quilinhos a mais”. Popularmente, dieta refere-se a estilos alimentares “da moda”, restritivos e/ou muito diferentes do que realizamos habitualmente, e que por isso levam então ao emagrecimento. Contudo, este termo é utilizado erradamente, dado o seu significado original nada ter a ver com perda ponderal, e os regimes alimentares temporários aos quais é associado são muitas vezes prejudiciais para quem os pratica. Resolvi então explorar um pouco mais essa questão, esclarecendo o que significa afinal esta palavra tão comum no nosso dia-a-dia, e transmitindo a importância de se meter as ditas “dietas” de lado e se optar por realizar verdadeiras mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares, a longo prazo, que promovam a saúde individual.
   A palavra dieta provém do termo grego dìaita, que significa “modo de vida”. Outras interpretações dadas ao mesmo termo indicam “uma escolha num leque de opções variadas” e ainda “decisão futura”. Apesar do significado original mais vasto do que apenas a componente alimentar, ainda no tempo dos gregos e dos romanos começou dissociar-se das restantes componentes do estilo de vida e a referir-se apenas ao regime alimentar de cada indivíduo. Assim, dieta refere-se correctamente aos hábitos alimentares de cada pessoa, ou seja, à alimentação que cada um de nós realiza normalmente, ao nosso padrão alimentar individual. Não se refere a emagrecimento, nem a mudanças temporárias, mas sim às nossas escolhas habituais a nível alimentar. Cada um de nós segue já uma dieta, a sua própria dieta, derivada das nossas escolhas individuais sobre o tipo de alimento que ingerimos.

   
   A maneira como normalmente nos alimentamos pode depender de vários factores: económicos (se tenho mais ou menos dinheiro disponível, posso ter mais variedade de escolha ou restringir-me ao que é mais barato); culturais (se for muçulmana, não posso comer carne de porco e derivados; se for hindu, não posso comer carne de vaca); sociais (se a sociedade em que me insiro promove muito o consumo de certos alimentos em detrimento de outros, isso vai afectar as escolhas que faço regularmente) e ainda pessoais, como o gosto de cada um. Todos esses factores juntos levam a que a minha dieta dificilmente seja igual à dieta de outras pessoas, ainda que pertençam à mesma cultura ou classe social. Cada dieta é personalizada e única.

   O termo dieta apenas ganhou uma conotação negativa nas últimas décadas. A associação do mesmo a uma alimentação mais restritiva começou apenas a generalizar-se com a evolução da visão do corpo enquanto objecto de estética, bem como com a evolução dos ideais de beleza da sociedade para corpos mais magros. É uma associação recente a nível temporal. Com a transição da visão corporal de equilíbrio e saúde para beleza e aceitação social, a dieta – um dos principais influenciadores da nossa forma corporal – sofreu também alterações, passando a ser mais restritiva, e consequentemente criando a associação errada do termo a emagrecimento, mas também a fome, e a algum “sofrimento”.

   O problema desta questão está associado à padronização de algumas dietas radicais, que ao longo do tempo passaram do seu carácter individual para um nível público, levando muitas pessoas a realizar mudanças extremas na sua dieta individual, na tentativa de obterem um corpo mais desejável de acordo com os padrões sociais. Mudanças alimentares radicais, sem supervisão de um nutricionista, e muitas delas completamente desadequadas e descabidas, levam a perda de saúde, e poucas vezes à obtenção do resultado desejado  – ou obtenção temporária do peso ou forma corporal desejados, seguidos de ganho ponderal ainda maior do que se apresentava inicialmente, ou acumulação de mais “gordurinhas localizadas”. A maior parte dessas “dietas milagrosas” propõem mudanças tão radicais na alimentação que as pessoas não têm outra opção senão de facto fazer dessas mudanças temporárias, dado não serem sustentáveis por muito tempo. Como não ensinam a pessoa a “alimentar-se de modo saudável”, e causam ainda perturbações no metabolismo e correcto funcionamento do nosso corpo, após o término do “período de dieta”, a pessoa volta aos velhos padrões alimentares, ganhado todo o peso perdido e por vezes até mais. Além disso, muita da perda ponderal dessas mudanças radicais deve-se à perda de água e não de gordura, ou eventual perda de massa gorda acompanhada também de perda de massa muscular, o que não corresponde às expectativas de quem as realiza.

   
   São raras as dietas padronizadas que não seguem todo este processo, uma vez que o seu objectivo é apresentar perdas de muito peso e gordura corporal em curtos períodos de tempo. Com todo o stress em que vivemos, mas também com todos os facilitismos criados por avanços tecnológicos, habituámo-nos a obter as coisas que queremos com rapidez, a ter tudo para “ontem”, e quando isso não acontece ficamos em stress, desanimamos e desistimos, mesmo quando é para algo que pode ser futuramente benéfico para nós. É possível a perda de peso de forma consistente, com manutenção a longo prazo, e baseada na perda de massa gorda; apenas é necessário tempo, para garantir que as mudanças na alimentação são graduais, que nos adaptamos às mesmas, que são ensinadas – o porquê de se realizarem, o que acontece, o que se obtém – e que são realmente integradas num novo estilo de vida e mantidas com o tempo. Só mantendo comportamentos saudáveis consistentemente é que obtemos e mantemos resultados igualmente saudáveis, sem regredir.

   Qual a solução? Acalmar o stress, que é ele próprio um factor de ganho ponderal (na maioria das pessoas), entender como a alimentação saudável pode ser realmente benéfica para nós, procurar maneiras de essas mudanças serem mais fáceis de realizar e mais saborosas, e entender que a expressão “easy come, easy go” também se aplica ao caso do corpo. 


Espero que a partir de agora a vossa dieta seja mais saudável, e menos radical e sazonal!

Beijinhos,

Joana Ferreira

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