Quando pedimos um café, esta é sempre a decisão que segue: o que vou meter no meu café? Durante muito tempo um pequeno pacote de açúcar servia para adoçar o café, sendo posteriormente substituído pelos adoçantes para conferir um sabor igualmente doce mas isento (ou quase) de valor calórico. E, enquanto que para muitos essa ideia prevalece, para outros o retorno ao açúcar tornou-se inevitável, uma vez que novos estudos indicam que o adoçante pode fazer tanto mal ou pior que o açúcar. Em que sentido o adoçante nos pode prejudicar? Será só um rumor? O que devemos escolher afinal?
No que toca ao caráter positivo ou negativo da sua utilização, o que a evidência mostra é que, apesar de toda a atenção da qual os adoçantes têm sido alvo nos últimos anos na comunidade científica e de muitos progressos terem sido feitos no conhecimento destas substâncias, são necessários mais estudos para formular uma opinião mais assertiva neste tópico. Alguns efeitos a longo prazo de certos adoçantes não são ainda bem conhecidos, e muitos estudos existentes foram realizados em animais, mas ainda não foram adaptados à espécie humana. Além disso, não se pode avaliar unicamente os adoçantes no seu conjunto, uma vez que, apesar de todos terem uma capacidade adoçante e alguns efeitos em comum, são bioquimicamente diferentes e reagem de maneira diferente no interior do nosso organismo. É então pertinente avaliar as caraterísticas e o efeito positivo ou negativo de cada adoçante individualmente.
Segue-se o acessulfame-K, um dos adoçantes mais utilizados a nível dos suplementos desportivos. É um adoçante artificial cerca de 200 vezes mais doce que o açúcar e isento de calorias. Estudos realizados em animais, logo após a sua aprovação, sugeriram a possibilidade se ser carcinogénico, e de causar problemas durante a gestação. Contudo, em 2000, o Scientific Committe on Food reexaminou toda a evidência científica relacionando cancro e acessulfame-k, e concluiu que não havia indícios de que o consumo deste adoçante pudesse causar cancro na espécie humana. Se consumido dentro dos valores recomendados (dose igual ou inferior a 9mg/kg/dia) o acessulfame K é considerado saudável.
O ciclamato é um adoçante artificial, cerca de 30 a 50 vezes mais doce que o açúcar e isento de calorias. Apesar de inicialmente considerado seguro, devido a alguns estudos posteriores realizados em animais, demonstrando cancro na bexiga e danos testiculares derivados do seu consumo intensivo, o ciclamato foi considerado mutagénico e carcinogénico, e a sua utilização foi proibida em vários países, como EUA e Canadá. Porém, estudos melhores e mais recentes, realizados por diversas entidades de saúde e segurança alimentar, concluem o caráter seguro do ciclamato, pelo que voltou a ser admitido em alguns desses países, e aguarda essa decisão noutros. A sua utilização é permitida na Europa, sendo o consumo recomendado uma dose diária igual ou inferior a 7mg/kg/dia.
A sucralose é um adoçante artificial, que resulta da modificação da molécula original de açúcar e inclusão de cloro na sua composição. Dessa modificação resulta uma intensificação do sabor doce do açúcar em cerca de 600 vezes, e sem contributo energético associado. Apesar de um estudo sugerir que o consumo frequente de sucralose pode enfraquecer o sistema imunitário, e estar na causa de dores de cabeça e enxaquecas, o Scientific Committe on Food afirma que não existem efeitos adversos associados ao consumo da sucralose, e a EFSA aprova a sua utilização nos mais variados produtos. O consumo recomendado é uma dose igual ou inferior a 15mg/kg/dia.
A stevia é um edulcorante natural, obtido a partir das folhas da planta com o mesmo nome, com uma capacidade adoçante entre 200 a 300 vezes superior ao açúcar. É isenta de calorias. Tem um sabor leve a anis, que normalmente não é do agrado da população geral, pelo que muitas vezes não é utilizada no seu estado puro e é misturada com outros adoçantes artificiais. A razão dessa mistura deve-se também ao facto de a FDA não aprovar os extratos de stevia naturais, reconhecendo apenas como segura a stevia refinada (que sofre processamento). A EFSA considera-a segura após uma série de estudos realizados em animais e humanos, publicados em 2010, afirmando que não é tóxica nem carcinogénica. Contudo, a mesma entidade realça que tal não significa que auxilie a perda de peso ou a manutenção de um peso saudável. O consumo recomendado é uma dose igual ou inferior a 4mg/kg/dia.
A frutose é um açúcar naturalmente presente na fruta e no mel. Faz parte da composição da sacarose, juntamente com a glicose. Contudo, comparando a mesma quantidade de sacarose e de frutose, a frutose é cerca de 173 vezes mais doce que a sacarose. Tal como a glicose, fornece 4 kcal por grama, contudo pode ser utilizada em muito menor quantidade para obter o mesmo sabor; além disso, a sua absorção no intestino é mais lenta do que a da glicose, evitando picos de glicémia e de insulina no sangue, sendo por isso mais adequada para os diabéticos do que o açúcar de mesa, contendo ambos. Contudo, não deixa de ser um açúcar, pelo que quando consumida em excesso pode igualmente causar todos os problemas atribuídos ao consumo excessivo de açúcar como intolerância à glicose, diabetes, aumento ponderal e obesidade, entre outros. Além disso, o consumo de grandes quantidades de frutose pode causar ocasionalmente dores abdominais e diarreia. A frutose é muito utilizada hoje em dia como substituto do açúcar, principalmente na forma de xarope de milho rico em frutose. Este produto confere um sabor doce, e apresenta também na sua composição glicose e frutose, sendo que esta última está presente em maior quantidade do que no açúcar de mesa. O problema é que a quantidade de glicose não é menor, além de que tem vindo a ser adicionado nos mais variados produtos, desde os mais óbvios como doces e bolos, aos menos óbvios como molhos e produtos à base de carne, o que faz com que o seu consumo atual seja excessivo mesmo sem que se dê conta, e esteja na origem do aumento de casos das doenças já mencionadas.
Há porém um problema comum ao consumo dos adoçantes, que se prende com a noção errada por parte da população que, ao terem menos açúcar e menos calorias, os produtos com adoçante na sua composição podem ser consumidos em maior quantidade. Muitos dos produtos com adoçantes na sua composição apresentam outros nutrientes e valor calórico derivado dos mesmos, pelo que o seu consumo em maior quantidade acaba por ser tão mau ou pior do que a versão dos alimentos com açúcar na sua composição. Além disso, há ainda aspectos fundamentais a investigar acerca dos adoçantes. Suspeita-se que o consumo constante de adoçantes aumente o desejo e apetite por doces, e suspeita-se ainda que o registo do sabor doce, ainda que não seja acompanhado dos açúcares e das suas calorias, possa influenciar à mesma a resposta da insulina, podendo aumentar a sua produção. Isto pode não só aumentar a formação de gordura, como também aumentar o risco de resistência à insulina (com maior risco para o desenvolvimento de diabetes). Além disso, um estudo realizado em Israel demonstrou que certos tipos de adoçante, nomeadamente o aspartame, a sacarina e a sucralose, podem promover o desenvolvimento de diabetes tipo 2, ao modificarem a flora intestinal dos seus consumidores frequentes. Contudo, todos estes aspectos necessitam de mais estudos, principalmente em humanos, e maior investigação no "como" estes processos ocorrem no nosso organismo, para se determinar se são ou não verídicos e o mecanismo que os desencadeia.
Que conclusões devemos então retirar?
Há que ter em conta que o adoçante já vem presente em muitos dos alimentos processados que consumimos, o que faz com que facilmente atinjamos as doses indicadas de consumo sem dar por isso. Assim, na hora de escolher se tomamos ou não adoçante com o nosso café, ou que adoçante escolher para comprar, devemos então ler os rótulos, ver quais os adoçantes que estamos a consumir, variar no tipo de adoçante utilizado e ainda alternar com a utilização de açúcar. Devemos também reduzir a quantidade de açúcar utilizado, de modo a gradualmente nos habituarmos ao sabor natural dos alimentos, e deste modo reduzir o consumo tanto de açúcar como de adoçantes.
Para mulheres no período de gestação, é preferível evitar o consumo de adoçantes, pois ainda que muitas das doses recomendadas se apliquem também às grávidas, o feto é capaz de captar os adoçantes absorvidos muito facilmente, e a quantidade que é aceitável para a mãe poderá não ser para o feto, podendo afetar o seu desenvolvimento.
Ao elaborar este artigo esclareci muitas das dúvidas que eu própria tinha acerca dos adoçantes! Espero que as vossas também tenham sido esclarecidas, e que da próxima vez que se perguntarem o que escolher, escolham já mais informados!
Um beijinho,
Joana Ferreira
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